O Festival de Poesia do Condado, em Salvaterra do Minho, chega ao marco histórico de 50 anos, consolidando-se como um dos eventos literários mais combativos e emblemáticos da Galiza. Meio século depois, o festival continua a ser um bastião de resistência cultural, reunindo gerações de poetas, músicos e artistas que, ano após ano, transformam este encontro num palco de liberdade e afectos.
Uma Antologia de Resistência
Para celebrar esta história de meio século, foi lançada uma antologia de poesia que reúne vozes essenciais da literatura galega e do mundo lusófono. Esta colectânea é uma homenagem ao espírito do festival, que desde 1981 se tem afirmado como um motor de reivindicação linguística, social e política.
Entre os poetas que compõem esta edição especial, e da qual tenho a honra de fazer parte, encontram-se Ana Fernández Melón, Andreia Costas, Antom Fortes, Tiago Alves Costa, Branca Trigo, Marga do Val, Nieves Neira, Rui Mangas, Sechu Sende e José Viale Moutinho. Cada um, com a sua voz, reflecte a pluralidade e a força de uma poesia que se propaga, contamina e se torna num acto de criação colectiva e força transformadora.
Desde a sua fundação, o Festival do Condado tem sido um espaço de interseção entre arte e militância. Em tempos de repressão, tornou-se um refúgio para a expressão poética em galego, resistindo às tentativas de apagamento cultural. Ao longo das décadas, ampliou sua influência, cruzando fronteiras e estabelecendo pontes entre diferentes territórios da lusofonia.
Mais do que um evento literário, o Festival do Condado é um movimento,um grito colectivo que ecoa entre as muralhas de Salvaterra e atravessa a Galiza inteira, reafirmando que a poesia não é apenas estética, mas também revolução — contínua, insurgente, irreversível.
A poesia galega sempre caminhou de mãos dadas com a rebeldia e a resistência, e o Festival do Condado é a sua prova viva. Agora, ao comemorar 50 anos, o festival não só celebra o passado, mas também projecta o futuro, mantendo-se como um farol para as novas gerações de criadores e para todos aqueles que veem na palavra um instrumento de transformação.
A antologia agora lançada é uma marca indissociável desta trajectória. Uma colectânea que fixa na memória a força de uma poesia que resiste, reivindica e nunca se rende. Porque na Galiza, a poesia sempre foi sinônimo de luta e, ao mesmo tempo, expressão universal da condição humana.