Afirmar um novo autor na língua portuguesa é um desafio, especialmente quando desconhecido. Publicar um livro exige qualidade, e as grandes editoras evitam riscos. A publicação de um livro não é uma tarefa simples, sobretudo quando a obra não apresenta a qualidade exigida pelas grandes editoras, essas, por sua vez, tendem a evitar riscos. Afinal, todos nós começamos como desconhecidos. O que define, então, um autor? Seria ele fruto da alienação ou da misantropia?
A literatura não está extinta, mas observa-se um movimento preocupante por parte das grandes editoras, que parecem comprometidas com a sua degradação. Ao priorizarem publicações voltadas para temas comerciais, como culinária ou romances de estrutura previsível, reduzem o espaço para obras inovadoras e reflexivas. Diante disso, surge a questão: quais livros deveriam ser promovidos? Aqueles escritos por verdadeiros vanguardistas ou aqueles concebidos apenas com o intuito de gerar lucro?
Nos últimos anos, a literatura transformou-se consideravelmente, sendo, em alguns casos, alvo de ridicularização por parte das grandes editoras. Enquanto isso, pequenas editoras assumem o risco de publicar novos autores, ainda que o público para estas obras seja reduzido. Talvez essa seja a explicação para a dificuldade em consolidar novas vozes no mercado editorial.
A qualidade de um livro não se define pela sua capa, mas pelo seu conteúdo e pelo talento do autor. No entanto, assinar um contrato com uma grande editora não é, por si só, um atestado de qualidade literária. Cada leitor tem preferências distintas, e a avaliação do que constitui uma grande obra é sempre subjetiva. Existem críticos literários que desempenham essa função de forma mais criteriosa do que alguns editores, assim como há revisores que podem alertar os escritores sobre eventuais equívocos, sem que estes precisem ceder às imposições mercadológicas das editoras.
A publicação de obras de autores consagrados e já falecidos continua a ser uma das principais fontes de rendimento das grandes editoras. Em contrapartida, os escritores emergentes encontram espaço, sobretudo, em pequenas editoras ou recorrem à autopublicação. As grandes casas editoriais não se preocupam em preparar novos autores para o mercado, nem investem na sua promoção.
O processo de submissão de um manuscrito a uma grande editora equivale a ser avaliado por um júri editorial que, por vezes, pouco compreende de literatura, mas busca incessantemente um best-seller. Há uma tendência a privilegiar romances sobre o “amor verdadeiro” em detrimento de obras de poesia erótica, ficção especulativa ou ensaios críticos sobre a realidade sociopolítico do país.
A arte, atualmente, parece destinada àqueles que enfrentam adversidades. Quando um autor conclui a escrita de um livro, recomenda-se que o registe antes de decidir submetê-lo a editoras. A grande questão reside na seguinte escolha: publicar para ser lido por um pequeno público em Portugal ou arriscar caminhos alternativos.
A poesia, por exemplo, carece de um público-alvo devido à escassa divulgação de novos autores e à falta de transparência das grandes editoras. Como sobrevivem, então, os poetas e os romancistas vanguardistas na atualidade? Estará a poesia, de facto, morta? Certamente, necessitaria de um apoio mais significativo por parte das grandes editoras para conquistar espaço tanto no mercado nacional como no internacional. Muitas editoras afirmam ser impossível vender poesia, mas se ainda há poetas, como se justifica essa impossibilidade? A questão parece estar mais ligada à ausência de interesse na sua promoção do que a uma inviabilidade real de mercado.
Atualmente, a escrita tornou-se, para muitos, um meio de reconhecimento, e não uma expressão artística destinada a expandir horizontes intelectuais. O pensamento humano cresce mais quando abraça causas coletivas do que quando se restringe a interesses individuais.
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Miguel Leonardo, é escritor, poeta, ensaísta, músico, ator, guionista e realizador. Aos 16 anos começa o seu primeiro movimento poético com Luís Oliveira e Nuno F. Silva, o movimento Ultra Abjecionista. Entre 2020 e 2021, foi personagem principal nas curtas-metragens «Contra Tempo», «Subsolo» e «1 de Janeiro». Aos 25 anos, lançou a sua primeira curta-metragem, «O Rapaz Que Pensava Demais», nomeada em alguns festivais de cinema em Portugal e no estrangeiro. No mundo da literatura escreveu «A Voz de Lisboa com Paris» (Gato Bravo, 2023, janeiro) e «Pena Humana» (Poética Grupo Editorial, 2023, dezembro), com ilustrações de Luís Silveirinha.