6 poemas do livro “Pena Humana” de Miguel Leonardo
Para Cesariny & Alexandre O’Neill
Existem palavras duras:
Palavras amor.
Palavras que nos detêm e nos provocam nos lugares
Estranhos.
Palavras de humanidade
Destroem, esses, os humanos
Palavras húmidas:
As que nos calam.
Palavras incertas:
Palavras para nos manter afastados.
Onde o mal que existe em toda parte
Nos deteta, preenche-nos, e
Destrói-nos em todos os lados das cidades.
Não somos complacentes ao mundo
Pertencemos a ele, mas derrotamos o
Hoje,
Somos marginais.
*
Porque os Próprios Animais Sentem o Fim
Fim na Tempestade?
Delirante a movediça que cobre metade do corpo
Porque o fogo mantém-se
Para lá arde o espasmo espesso que a morte segue
daqui adiante
Que não vale ser raça porque o puro não existe
Serão realizadas a entregas póstumas que a pólvora
está pronta atirar
Nas bermas da estrada onde nem as árvores nos dão
de comer
Pelo dióxido de carbono, forma das fábricas,
inspiramos como oxigênio as papoilas da droga
Que talvez.
Hoje pobres de religião e numa relação idealista
pelas formas do mundo
Pouco preocupados pelas folhas que ainda caíam na
primavera.
*
Move-me como antigamente,
Na autorama da estrada.
Que seria de mim senão louco.
Inocente que não se vê.
*
Hoje amanheceu.
Decidi deslizar entre as tuas mãos
Pedindo ajuda à minha inocência.
Frio e mais outra coisa qualquer.
Isso.
Como se a vida não corresse entre nós.
*
As tuas mãos nas minhas fazem silêncio,
Nos confins do mundo
A tua boca é mais urgência
*
Idiomática
Manobra-me e não me desmembres.
A minha oportunidade enquanto em pé será rastejar
pela britânica faina da minha personagem. Hoje que
na vida se pode o que combinámos, nada disso
senão esquecer.
Esquece-te de quando nos reunirmos na foz do rio.
Esquece-te quando nos viajamos pelo eco, hesitaria
se pudesse não te dizer.
Mas esquece-te da nossa última conversa, e
Esquece-te das coisas bonitas.
Esquece-te de quando tudo era tão nada difícil:
Porque nas perguntas deste a resposta.
O país mudou, e nós só teremos de lutar nas
montanhas de Maurice. Que nada em mim o mar,
seria bom se fosse eu a nadar, entre ele. Mas tornei-me
uma onda, vou e volto, e nunca mais volto.
Faz de mim a incidência da incoerência da minha vida.
O autor e o que realmente descreve?
♦
Miguel Leonardo, é escritor, poeta, ensaísta, músico, ator, guionista e realizador. Aos 16 anos começa o seu primeiro movimento poético com Luís Oliveira e Nuno F. Silva, o movimento Ultra Abjecionista. Entre 2020 e 2021, foi personagem principal nas curtas-metragens «Contra Tempo», «Subsolo» e «1 de Janeiro». Aos 25 anos, lançou a sua primeira curta-metragem, «O Rapaz Que Pensava Demais», nomeada em alguns festivais de cinema em Portugal e no estrangeiro. No mundo da literatura escreveu «A Voz de Lisboa com Paris» (Gato Bravo, 2023, janeiro) e «Pena Humana» (Poética Grupo Editorial, 2023, dezembro), com ilustrações de Luís Silveirinha.
Estes 6 poemas fazem parte do livro “Pena Humana” (Poética Editorial, 2023).