“A transparência que se une por entre as árvores” I 5 poemas de Inez Andrade Paes
1.
a transparência que se une por entre as árvores
não limita o vento que por elas passa
alça os ramos baixos
que caem em dança ondulante
*
2.
a turquesa
nos fósseis
acende ocre das profundezas
*
3.
aqui me escapo
pouso nesta
abanando de amor
sem sentir
que a dor
a maior lança que aperta
enlaça a verdadeira imagem desta flor
*
4.
é dos rebentos
que transparece a cura
da própria árvore
que se vê antiga
*
5.
do corpo delgado vestido de verde
saia rodada de machos
as pernas
com negras meias
nas mãos rosas
*
6.
margens ornadas
da toalha antiga
coberta de cartas de Zéfiro
quantas delas estão molhadas
quantas dobradas pelo vento
esperam
o sol que as leia
*
Inez Andrade Paes nasceu em Pemba, Moçambique em 1961. A natureza, a escrita, a arte são o fundamento do seu universo – pintura, ilustração, poesia, prosa, fotografia. Da escrita publicou O Mar que Toca em Ti, crónica de viagem – 2002 ; Paredes Abertas ao Céu (poesia 2011, com prefácio de Fernanda Angius); Libreto para uma Ópera em três Actos – Acto I Mar Falante; Acto II Transparente Luva de Água; Acto III Flores de Acanto Em Marfileno Lençol, constituindo o conjunto a Cantoriana Marítima, e três Cantatas adaptadas do mesmo poema todas musicadas pelo Maestro Vasco Pereira; Da Estrada Vermelha (Poesia 2015); Da Eterna Vontade (Poesia 2015); À Margem de Todos os Rostos (Poesia 2017); Sobre a Água Dentro Dela Anda uma Ponte (Poesia 2018). Representada em várias antologias e revistas literárias. Mantém o blog Contos de Fadas Não de Reis. É coordenadora do Prémio Literário Glória de Sant’Anna desde a sua formação em 2012.