4 poemas de Hera de Jesus
POEMA 004
Como um espectro
sinto- te perfurar
minha alma
És êxtase
poluindo
minhas
veias
roubando
pouco a
pouco
a minha
vida
Não sinto
mais o
doce perfume
dos lírios
do campo
Não tenho
mais urgência
em existir
em ser
foi- se
a essência
Envenenaste
me de amor
exilada
abracei
a morte
em meu
leito de dor.
*
A MORTE
Como um rasgo
de navalha
no íntimo das minhas entranhas
Não me feres mais
Conheço-te
de palavra, cor e dor
Conheço-te
profunda, gélida
e tristonha
Não te temo mais
Oh, morte!
desci tão profunda
as cortinas da tua sombra
Rocei a tua nudez
traguei o sabor amargo
dilacerante das lágrimas
saboreei a mais profunda tristeza
Não me tomas mais
Oh, morte!
*
QUEREMOS SER MULHERES
Há pranto
Há flores
murchas
esmagadas
pelos opressores
num mundo
cruel para Mulheres.
Calcinhas acorrentadas
ao pescoço
furtam-nos
a essência
à luz do dia
Se resistirmos
estoiram o útero
e lançam na sargeta do mundo.
Nas montras das ruas
Jazem flores
murchas,
nuas e ensaguentadas
Chacinadas, e descoroadas
Era uma vez
Mulheres
que apenas
Queriam ser Mulheres
num mundo cruel
para elas.
*
À MEIA NOITE
À meia
noite
embriagas-te
com o cálice
dos meus
beijos
Escalas
os montes
das minhas
ancas
e com
as duas
mãos
esmagas
os cachos
das minhas
nádegas
Deleitas- te
de gozo
no prado
dos meus
encantos
*
♦
Hera de Jesus, nasceu em Maputo, em 1989. Entre 2013 e 2017, participou e foi distinguida em alguns concursos internacionais de poesia. Tem textos publicados nas antologias “Soletra esse Verso” (2018); “Fique em Casa” (2020); “Linguagens e suas Tecnologias – Manual do professor” (2020); “No cais do Amor” (2022): “Kimpwanza” (2023) e “A boca no Ouvido de Alguém” (2023). Tem seu trabalho publicado nas revistas: Lidilisha, Soletras, Contioutras, Por Dentro de África, Escamandro, Avenida Sul, Mallamargens, Folhinha Poética, Cultural Traços/ Alta Cultura, Germinaliteratura. É membro da Confraria Brasil/Portugal, colaboradora da revista Incomunidade, literatura & Arte Òmnira, e Off The Record.