Elogio do Cansaço I Miguel Leonardo
Vivemos num tempo acelerado, onde a sociedade se aproxima cada vez mais do limite do burnout. Trabalhamos sem parar, criamos quando podemos e, pelo meio, tentamos sobreviver à pressão constante de produzir, competir e “vencer”. É neste cruzamento entre vida, arte e desgaste que nasce este Elogio do Cansaço.
Ao longo da história, o ser humano conheceu avanços, quedas e contradições. Hoje, porém, parece que deixámos de ser cidadãos para nos tornarmos sobretudo consumidores. Não é apenas um problema económico. É uma condenação espiritual. Compramos, acumulamos, repetimos gestos automáticos e chamamos a isso viver.
Ao mesmo tempo, celebramos pensadores, cineastas, artistas, filósofos. Admiramo-los. Mas esquecemo-nos de que, para criar, é preciso tempo, coragem e descanso, três coisas que a nossa sociedade nos retira diariamente. A valentia de pensar parece ter-se perdido no meio do cansaço geral.
O cansaço é a humanidade inteira,
imperfeita e resistente.
O trabalho ocupa tudo: os dias, as forças, a imaginação. Para uns, com salários baixos; para outros, com salários médios ou altos, dependendo do estudo ou da sorte. Mas, no fundo, todos partilhamos o mesmo destino: nascemos, crescemos, estudamos, trabalhamos… e morremos. Esta sequência, tão repetida, tornou-se uma espécie de roda que quase ninguém questiona.
A verdade é simples: o grande problema do nosso tempo é o cansaço. Não é novo. Sempre esteve connosco. Mas hoje é mais visível porque vivemos no meio da diáspora, da velocidade e da ansiedade geral. O cansaço tornou-se a nossa língua comum.
E, no entanto, há grandeza nisto. Há uma humanidade profunda no acto de continuar, mesmo cansados. O cansaço revela que somos feitos de esforço, memória, luta e fragilidade, e é essa fragilidade que nos une.
Por isso, este é o meu elogio do cansaço. Não como derrota, mas como testemunho do que somos. O cansaço é a humanidade inteira, imperfeita e resistente.















