I
Aqueles que são proscritos dentro da estase da catástrofe — que são corretamente sujeitados ao embate que ela investe — já não podem ser interrompidos; a sua interrupção é interminável, é determinada como um predicado, como uma ruptura estabelecida em cada fissura, um debulho apenas de joio. Aquele que não encontra o olhar daqueles que dariam refúgio — que se recusa a ser consolado na piedade de um olhar ansioso — torna-se assim invisível para todos os que extrairiam significado da aragem deste vale devastado…
A receção é impactante, faz o que quiseres. No rescaldo dos rescaldos, encontramo-nos presentes neste compasso de declarações, nos contornos desta esmaecida ferida.
Those who are proscribed within the stasis of catastrophe—who are properly made subject to the onslaught it inveighs—can no longer be interrupted; their interruption is unending, is determined as a predicate, as a rupture set within each rift, a thresh of only tares. One who does not meet the gaze of those who would give refuge—who refuses to be solaced in the pity of an eager stare—is thereby made invisible to all who would glean meaning from the tillage of this ravaged vale…
Reception is impactful, do what you will. In the aftermath of aftermaths, one finds oneself made present to this compass of avowals, the contours.
II
Se tenho pouco para te dizer sobre o meu avanço, a minha desesperança — sobre a minha distinção enquanto um agente ou contador até este ponto; se a minha memória antes do nosso envolvimento é uma medida quantitativa justa das minhas conquistas passadas, isso nada tem a ver com a natureza dos meus companheiros — nem com as suas subservientes concordâncias. Agora, podes ter as tuas questões, as tuas monótonas auto-negações, podes dar-te ao ar de apenas essa mancha de discurso enfermo, mas é só isso que é, tudo o que alguma vez ofereceste aos conversos impenitentes pelo seu incómodo ou pelo seu prazer, um banho sem cume, ou profundidade mensurável…
Uma catarata de impulsos fluindo pelas veias e contida pela pele. O mundo estende-se ao nosso lado, apenas timidamente.
If I have little to tell you of my advancement, my despondancy—of my distinction as a mover or a teller to this point; if my memory precedingour engagement is hardly a fair quantitative measure of my past achievements, it is nothing at all to do with the nature of my companions—nor with their obsequious assents. Now, you may have your questions, your dull self-abnegations, you may give yourself the airs of just this queasy, parlous taint, but that is all it is, all you’ve ever offered the impenitent conversos for their trouble or their pleasure,a bathos without pinnacle, or measurable depth…
A cataract of urges sluiced by veins and stopped by skin. The world holds out beside us, only barely…
III
Tantas vezes os meus caprichos me desiludiram; encontro-me num lugar onde nunca estive, mas num local que parece familiar. Quem sabe qual o caminho a seguir? Talvez haja um sinal logo após a próxima curva na estrada; logo atrás do próximo horizonte, tão provável e verdadeiro. Inicialmente, tais divagações ansiosas guardam a promessa de aventuras e divertimentos que nunca se imaginaria possíveis. No início, há um carinho em cada porta e um beijo em cada janela…
Há beatitude para lá do tédio da distração? Um canto gregoriano mais doce do que o transe de dedos a clicar nos fusos…
So many times my whims have failed me; I find myself somewhere I’ve never been, but in a place that seems familiar. Who knows which way to go? Perhaps there is a sign just past the next curve in the highway; just behind the next horizon, near as likely and as true. At first, such fretful wanderings hold the promise of adventures and amusements one would never have thought possible. At first, there is a nuzzle in each doorway and a kiss in every window…
Is there beatitude beyond the tedium of distraction? A plainsong any sweeter than the trance of fingers clicking over bobbins…
IV
Se tiver a oportunidade de salvar uma única coisa…É isto que nos atrai para a chegada da catástrofe. Assim que renunciamos a esta última virtude, a destruição pode começar…Olha para isto, conseguirás, uma oferta que não podes recusar — com ninguém além de ti, só tu em mente. Não é isto que estavas à espera? O que motiva os teus assobios e os teus apupos?
Pensaste que tinhas descoberto algo em falta, algo melhor deixado deformado, mas agora…
If I have the chance to save one thing, just one…This is what attracts us to the coming of catastrophe. Once we give up this last virtue, the destruction can begin…Look at that, will you, an offer you can’t refuse—with no one but you, just you in mind. Isn’t this what you’ve been waiting for? What motivates your whistles and your catcalls?
You thought that you’d discovered something missing, something better left deformed, but now…
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Steven Seidenberg, poeta, filósofo e artista, tem como obras literárias mais recentes Anon (Omnidawn, 2022), plain sight (Roof Books, 2020) e Situ (Black Sun Lit, 2018). Os seus livros foram traduzidos para português, italiano e sueco, sendo que A Vista em português foi lançado pelo Grupo Criador em 2022. As suas coleções de fotografias incluem The Architecture of Silence: Abandoned Lives of the Italian South (Contrasto, 2023) e Pipevalve: Berlin (Lodima Press, 2017). Teve exposições individuais do seu trabalho visual no Japão, Itália, Alemanha, México e Estados Unidos.
Tradução do inglês por Tiago Alves Costa.